Uma unha
Uma unha, na verdade ele encontrara um pedaço, uma lasca de unha que havia se quebrado e cravado em suas costas. Agora estava ali em sua cama, uma unha... Pedaço morto de alguém, mas que ainda o feria tanto, não em relação à ferida, aos traços como esboço que ficara do ombro às costas, uma escrita em vermelho, aqueles traços pareciam dizer, "estive em nós", estaria escrito isso? Era o que significavam aqueles finos traços vermelhos inflamados?
A dor que ele sentia era esta, ver que o que lhe restara era aquele pedaço de unha pintada de vermelho, como um objeto artesanal deixado e esquecido. Ela havia deixado algo que não lhe proporcionava dor, a unha é um tecido morto, podemos cortar e não dói nem um tiquinho. Isso o incomodava, ela deixara o que não podia mais sentir.
Ao mesmo modo, de quando em vez, depois da última noite que se encontraram na mesma cama, alguns longos e escuros fios de cabelos insistiam em envolver o seu corpo que em sobressalto acordava acreditando que estava sendo abraçado, mas era apenas mais um pedaço morto, um tênue fio que ainda os ligava, um pedaço sem vida.
Ficou a pensar, que diabos ela teria levado de mim? Havia levado algo? procurou na gaveta um cigarro para refletir, em cima da mesa, nos bolsos e não encontrava. O isqueiro já queimava com a angústia de obter as reflexões que havia dentro de cada cigarro... Mas já não era necessário refletir, a mão trêmula se fecha apertando o isqueiro e conclui: o que ela havia levado, o maço de cigarros.
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