Traição

Já acordou e o primeiro pensamento foi em seu amor, era dia de encontrá-lo. Foi ao guarda-roupa e escolheu aquela camisa que lembrava o seu afeto, sua história de cumplicidade e dos bons momentos vivenciados juntos na alegria ou na tristeza. O seu rosto transluzia a felicidade de um menino, seus olhos ansiosos por sentir a paixão inexorável.
Quando encontrou os seus amigos no restaurante, o assunto não poderia ser outro senão a condescendência a sua relação amorosa, falava dos detalhes, das qualidades. Em meio à comida e o copo de cerveja ainda mastigando a carne que estava difícil de descer, maldizia quem criticava a sua paixão, a qual ele jurava que era perfeita. Quantas vezes ele repetia, na roda com os amigos, que já brigara inúmeras vezes quando alguém maldizia o seu amor. Falava em perdas de amigos de longas datas e de discussões tão acaloradas que quase chegaram às vias de fato.
Mas, naquele dia nada iria estragar o seu encontro tão esperado da semana, só pensava nisso. Chegando a casa, depois do dia de trabalho ligou a T.V. e nem é preciso dizer aqui o que ele via... A imagem do seu amor... Quando estamos apaixonados vemos a imagem de quem amamos em tudo e isso o fez se lembrar de uma música do sambista Adoniram Barbosa. Ele pensava alto, essa foi feita especialmente para o meu amor. Aí se lembrou de uma canção do toquinho e queria se lembrar de outra que uma dupla sertaneja havia gravado há tempos, mas aí se lembrou de uma do Rolando Boldrin e outra do Tom Zé.
Ainda faltavam algumas horas para o encontro, talvez ficasse entretido em seu quarto com as músicas esperando a desejada visita. Entretanto, o seu celular anuncia uma nova mensagem. Era uma amiga que havia conhecido recentemente e que agora o convidava para sair. Ele ficou confuso, pois ela tinha o olhar de um Basilisco, a boca entreaberta parecia falar rente ao seu ouvido e os seus longos cabelos emaranhavam seus pensamentos. Olhou para o relógio, conferiu umas três vezes quanto tempo ainda tinha, contava nos dedos quatro horas antes do encontro que aguardou o dia todo ansioso e num ímpeto digitou que topava, mas que não poderia ficar até muito tarde.
No bar, já era a quinta cerveja e o seu pensamento era continuar ali no aconchego daquela mulher que o fazia tão bem, o gosto do batom se misturava com o da cerveja e o do cigarro. Os olhos da moça quase negros como o negrume da noite escondia as horas que giravam no relógio. Quando saíram do bar se despediram com mais um longo beijo. Ele só lamentava por não estar escutando wish you were here, então caminhou até o carro pensando na canção, ligou o seu rádio e sem nenhuma pressa deu partida no automóvel e foi sentindo a música, a leveza e a pintura à nanquim que faz a noite.
Quando desligou o rádio, rapidamente se lembrou do seu encontro, olhou para dentro de casa meio desconfiado, sentiu culpa e medo que tudo teria se acabado. Apreçou- se em abrir a porta, dirigiu-se rapidamente ao banheiro. O espelho lhe mostrava a barba, a boca e o rosto borrados de batom muito vermelho... Ele tenta limpar rapidamente, mas era difícil de sair, para que tão vermelho? Caminha depressa para a sala e estranha o silêncio que não era comum naquele dia, o coração cada vez mais rápido bombeia o sangue traidor... Liga a T.V. e percebe que já são altas horas.


Havia perdido a noção do tempo e tinha a sensação que tudo havia se desmoronado. Esse pressentimento nunca falhava. Ele agora caminhava lentamente, não se sabe se por causa do mau pressentimento ou por que de quando em vez a boca da amante aparecia em seus pensamentos. Abriu a porta do quarto com o braço pesado e cansado observou a cama quase vazia senão por um notebook. O ligou, agora com um frenesi que aguçava suas mãos e seus olhos, abriu o facebook... O seu pressentimento estava certo, tudo havia desabado, o gosto da derrota não era maior que o gosto da culpa. O dia todo esperando pelo encontro marcado às dez da noite... E ele havia faltado, o que mais queria? Que tudo estivesse uma calmaria? E logo ele que tinha o orgulho de bater no peito e dizer que era Fiel... Uma história de décadas de fidelidade e agora aquelas palavras no facebook lhe cortavam o coração, as lágrimas desciam do rosto e foi então que num ímpeto resolveu publicar para todos em rede social. Eu lhe trai Corinthians e essa goleada sofrida... Foi culpa da minha ausência , se eu tivesse no mesmo lado do sofá e mordendo a camisa do Sócrates do jogo de oitenta e dois nada disso teria acontecido . Mas, sei que irá vencer no momento certo, se não conquistar o título prometo que nunca mais beijarei a boca que me roubou do sagrado encontro... Vai Curinthia!      

Comentários

  1. Sabe que agora que li esse seu depoimento tosco entendi o nome do seu blog !!!

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  2. Muiiiiiiiito bommmmm!!!!!!!!!!!! Palavras ditas com o coração!!!!!!!!Amei! Corinthians minha vida!

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