Tempo
Ele traga a minha existência assim como alguém traga um cigarro, o tempo, ele quer se vingar de mim, pois venho proclamando que sua "santa" entidade é composta pela essência da inveja e infantilidade. Ele fica a brincar com os sentimentos, já fez muitas mulheres se esquecerem de mim e, de quando em vez, futrica em meus ouvidos as saudades mais terríveis dos tenebrosos e antigos amores vividos e não vividos. E fica furioso quando percebe que nós, humanos, despertamos paixões enquanto ele as adormece, inventamos estórias enquanto ele as desbota, nos embriagamos enquanto ele sempre sóbrio e linear.
Agora zomba de mim, desse súbito amor juvenil, zomba por ela ser tão jovem, mas, devo dizer que não a vejo como veem ele, linear, em forma de números e de datas, logo vivem a lhe esquecer e a lhe perder. Eu vejo a essência de mulher que há na poesia crescida de suas palavras e na força que suas pupilas me prendem ao me guardar dentro dela, sinto o cheiro da carne úmida exalado pelo pescoço e nuca.
Apesar de tudo, sei que a vida é uma tragédia e que tu tempo matará nossa história em alguns de seus momentos, mas também sei que ao nos assassinar irá tremer e não conseguirá abrir os olhos, já que a pequenez, o efêmero e os detalhes se agigantarão diante de sua pesada e tenebrosa eternidade.
Mas, se tu és tão grande entre nós, torna essa grandeza em maturidade. Sei que és um poderoso feiticeiro e pode ceifar, com sua foice indefectível, todo e qualquer mal que fiz a essa moça.
Entretanto, enquanto escrevia esse texto, repleto de sua presença, deus do tempo, fora me atingindo lentamente e ao término dessas palavras, já sem as cores primeiras, sinto mais uma história adormecida, ceifada cá dentro de mim. Colheste mais uma história.
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