Saudade...
Tenho medo de sentir saudade
e não poder fazer nada a respeito
Ai... ai... a saudade!
Saudade não é apenas sentir falta de alguém ou de alguma coisa.
É um afeto que cria em nós um apego inalienável.
Um paradoxo: algo que não se separa, separado. E uma vez distante, dói o corpo, dói a consciência que desesperadamente procura as marcas... Estas que as vezes chegam através de um cheiro, de uma textura, de um detalhe como a luz do sol em um entardecer de outono, de uma música, de um olhar ou de um sorriso. Não há poeta capaz de consolar a dor de uma saudade, pois é um afeto difícil de traduzir, talvez seja por isso que essa palavra só exista no idioma português.
A saudade parece deixar o futuro entre o passado e o presente. A saudade é o que fora e que agora é de forma mais intensa
Um exemplo banal explica melhor do que um lindo poema. Quem é que gosta de lambuzar a bucha no sabão e lavar uma pilha de louças? Uma raridade encontrar alguém que se deleite em tal aventura humana. No entanto, a saudade, seja a que nasce entre duas pessoas lavando louças onde os braços se esbarram, os olhares se cruzam, as palavras não param de jorrar como a água da torneira. A saudade faz com que a gente sinta prazer mesmo no acontecimento mais vil, o que o cotidiano adormece, a saudade aviva, excita, inflama, desperta...
Depois a saudade emenda o futuro, que é a incerteza de como será o ainda não vivido, se realmente vai dar para viver, se restará forças para isso, mesmo com um pedaço amputado, castrado e atirado em um oceano que pesa dentro do próprio corpo e que as vezes transborda pelos olhos.
E então, depois desse futuro, chega o presente o qual é uma verdadeira angústia: a síntese do passado com o futuro. O medo e a impotência faz queimar dentro do corpo. Corpo que com tanta angústia, quase engasgado... Suspirou pela primeira vez, em toda a história e em meio ao maior tormento humano a palavra SAUDADE.
Comentários
Postar um comentário