O voo do homem já crescido

Doía! E era como uma luzinha que ia gradativamente aumentando. Doía muito. Queria chorar, mas não chorou, preferiu ir ao parque deitar à grama e olhar o céu azul, mas o céu não estava azul e sim cinza ameaçando cair umas gotas e a grama estava bem rara e rala, quase não se via entre o solo arenoso e desértico naquele inverno. Não foi embora, se reconheceu ali naquele lugar, já que seus olhos ameaçavam umas gotas e seu peito era um deserto.
Ele andava com o olhar atento, parecia que procurava alguma resposta vinda do mundo lá fora, da vida cotidiana e tinha a certeza que iria encontrá-la...Encontrou um velho balanço com as cordas escuras e gastas, o acento de uma madeira lisa pelas várias vezes que se sentaram ali. Sentou-se no balanço, há tempos não fazia isso, lembrou-se de quando era menino e depois fez uma analogia entre o movimento desse brinquedo com o movimento da vida, é um eterno vai e vem.
Observava as pessoas caminhando  com os seus cachorros alegres próximos à lagoa que revelava uma imagem contrastante com os carros apressados que avançavam ainda no sinal amarelo da avenida. Mas o que lhe chamou a atenção foi uma menininha que corria atrás dos pássaros, cada bando que ela se aproximava voava ligeiro e só deixava pena e frustração, embora ela não desistisse, até que correndo desajeitada se aproximou bastante de uma rolinha, talvez ainda muito jovem, apanhou o pássaro, gritou de tão contente e o levou para o seu avô que havia ficado sentado contemplando tudo. Ele balbuciou algumas palavras, apontou o céu e arremessou o pássaro que voou até a próxima árvore.
A resposta estava ali, parou o balanço e refletiu com cuidado até ficar pronta a seguinte frase, a criança  corre com a utopia de apanhar o pássaro, já o homem crescido sabe a hora de libertá-lo. Pronto, fora o bastante para ofuscar a luzinha da tristeza que o incomodava tanto.
A atenção ao volante se dividia com a ideia da frase na hora de voltar para a casa, o homem já crescido não era o homem mais velho ou mais experiente, mas crescido como se fosse expandido, como se quase nada poderia fazê-lo sofrer, nem mesmo soltar o pássaro.


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