CORPO

 

As mãos de uma mulher próximas do meu corpo, elas me despiam com todo cuidado e respeito. Eu... ali estático, sentindo as digitais da moça com as minhas células todas trêmulas, tudo parecia se sentir como se sente um arrepio, mas agora por mais tempo, por todo tempo era um arrepio, um arrepio constante. Eu deveria ter bebido todas, parecia ter tragado todos os drinks ou ter puxado a fumaça de todos os baseados, aliás eu estava vendo em minha frente algo como uma ponta de um cigarro muito vermelha que se apagava aos poucos e voltava a ficar vermelha como brasa.

Eu não conseguia ver o rosto da moça que havia me despido… Quem era? Havia uma música ao fundo, mas não era uma música qualquer, tinha uma vibração que eu nunca havia sentido, um som que não parecia som, era macio e sem ruído, um som inexplicavelmente sólido e fluido... a voz da moça parecia atravessar essa frequência, mas eu não compreendia as palavras. Eu me lembrei, ainda meio confuso sem saber se era realmente uma memória ou um delírio, de quando acordei em um quarto estranho, não fazia ideia de como havia chegado lá e muito menos de quem era aquela cama, levantei-me e fui até a sacada, era um prédio alto e percebi que estava muito longe de casa, não havia ninguém, mas encontrei a porta aberta e achei melhor sair   antes do sol começar a ficar insuportável. Logo quando eu ganhei a rua uma doce voz me perguntou se eu não iria ficar para o café da manhã que ela havia acabado de buscar na padaria. Foi o melhor café da manhã que tomei em toda minha vida, não pelas guloseimas caprichadas, mas pela ternura e aconchego daquela companhia tão doce. Disse que não me acordara pois parecia que eu estava sorrindo adormecido.

Sorrindo adormecido sOrRindO ador adormecido ador rindo soRRindO adormecido

Essas palavras pareciam travadas na minha cabeça, sorrindo adormecido, as vezes desconectas ou em tons diferentes. Eu ainda não conseguia reconhecer a mulher que ali estava, mas de repente escutei a frase completa e sem travar, “parece sorrindo, parece adormecido e sonhando algo bom”. Em seguida eu sentia suas mãos passearem sobre meu corpo junto a um cheiro fádico, eu queria acordar, mas ao mesmo tempo parecia tão bom que batia uma vontade de adormecer que era mais forte do que eu... era muito bom aquela espécie de massagem, nunca me fizeram massagens dessa forma, quando faziam era sempre algo como preliminares e sem a finalidade de enaltecer o corpo, era apenas um ato provindo de interesses alheios. 

A música, o cheiro, a luz, a voz, as mãos que tratavam meu corpo de forma diferente se misturavam de tal forma que me parecia ser uma coisa só, deveria ser um estado de panteísmo no qual eu poderia sentir o todo em mim e meu eu no todo. Minha pressão parecia cair à zero e de repente a energia do corpo parecia dominar todo o universo e se espalhar por ele e, em meio essa oscilação, escutei a moça dizer, “nem parece que está morto”. A luz vermelha se apagou e meu corpo sentiu um grande orgasmo se espalhando por aí.



 

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